Especificações
- 208
- páginas
- ano
- 2021
- peso
- 335 g
- isbn
- 978-65-990122-8-0
- isbn (e-book)
- 978-65-80341-20-7
Em 17 de novembro de 1889, ocorreu no Maranhão, na cidade de São Luís, um grande protesto popular, majoritariamente de negros, contra o golpe militar que dois dias antes estabelecera a República no Brasil. Os manifestantes acreditavam que o objetivo era destituí-los dos direitos conquistados com a Abolição, cerca de um ano e meio antes, e reescravizar a gente de cor. Quando tentaram invadir e depredar um jornal republicano, uma tropa destacada para proteger o edifício realizou uma descarga de fuzil e, de acordo com números oficiais, matou quatro pessoas e deixou inúmeros feridos.
O episódio é conhecido como o Massacre de 17 de Novembro e, junto com outros incidentes envolvendo violência e racismo — como a destruição do pelourinho de São Luís e as prisões e torturas que seguiram o protesto —, é descrito em A nova aurora, novela histórica publicada em 1913.
Uma das imagens mais recorrentes acerca da instauração do regime republicano é a do povo bestializado, apático, sem tomar posição diante do golpe de Estado que encerrara o longo reinado de d. Pedro ii. Que alternativas e limites políticos e culturais uma sociedade egressa da escravidão poderia oferecer para realizar as promessas de uma cidadania sem distinção de cor, linhagem e origem social?
Astolfo Marques, um escritor negro que pensou o país a partir do velho norte agrário, lidou com esses impasses fazendo da escrita um espaço criativo em que alia pesquisa documental, relatos orais, ficção e lembranças pessoais, construindo, em A nova aurora, uma narrativa aberta a múltiplas vozes, que nos convida a questionar os muitos apagamentos de nossa memória republicana.
Astolfo Marques nasceu em 1876 em uma família negra livre e predominantemente feminina. Sua consagração definitiva como escritor importante veio com a criação, em 1908, da Academia de Letras, onde figura como fundador da cadeira n.o 10. Morreu prematuramente em 1918, com pouco mais de quarenta anos.
Matheus Gato é professor do Departamento de Sociologia da Unicamp. É pesquisador do núcleo Afro/Cebrap e coordenador do Bitita: Núcleo de Estudos Carolina de Jesus (ifch-Unicamp). É autor de O Massacre dos Libertos: sobre raça e república no Brasil (2020).
Vídeo
O sociólogo Matheus Gato conversa sobre o livro com a historiadora Keila Grinberg
Trecho
De vez em quando, um cabecilha inflamava o pessoal, incitando-o à luta, sem timidez.
Ao largo do Carmo, certo o local onde maior era a aglomeração, iam ter a toda a hora mensageiros de diretores imaginários ou incógnitos da rebelião decidida. Era o meeting, por convite anônimo, que se ia realizar ali, aonde haviam convertido em centro das operações. Parecia que todos os homens que, no ano anterior, estavam delirantes pela extinção do elemento servil, se achavam congregados na praça, formando uma guarda avançada ao trono em que desejariam ver Isabel, a Redentora, pois que visando a este bendito nome, de propósito, eram os vivas que soltavam ininterruptamente, num entusiasmo eletrizante, e em convicção profunda de baterem-se por um ideal que não compreendiam com absoluta nitidez.
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