Gente rica: cenas da vida paulistana

José Agudo

Indicação editorial e posfácio:
Walnice Nogueira Galvão

Especificações

200
páginas
ano
2021
peso
330 g
ISBN
978-65-990122-6-6
ISBN (E-BOOK)
978-65-80341-14-6

Publicado em 1912, este pequeno romance, ou crônica longa, é uma sátira impiedosa à elite paulistana do período. Contundente e corrosivo, Gente rica: cenas da vida paulistana é um dos mais expressivos exemplos da literatura belle époque de São Paulo.

Dividido em cenas, o romance é protagonizado pelos amigos Leivas Gomes e Juvenal Leme, figuras caricaturais que representam o estilo de vida dos poderosos. Empreendedor típico, Leivas enriqueceu graças à inteligência e ao oportunismo. Já Juvenal é paulista da gema, vive confortavelmente de rendas e descende de famílias de bandeirantes e militares. Alter ego do autor e hábil conversador, não perde oportunidade de disparar tiradas irônicas e extravagantes.

O cenário é uma São Paulo que rapidamente se moderniza, um Brasil em transformação, com o início do declínio da República Velha. Nossos heróis circulam pelo centro da cidade, mais especificamente pelo chamado Triângulo, ao lado de jovens janotas, fazendeiros de café, advogados, médicos, políticos e estudantes de direito: vão ao cinema, frequentam a Casa Garraux, as rotisseries Sportsman e Castelões, o Teatro Santana. Tomam café e confabulam no Guarany, avistam o Theatro Municipal recém-inaugurado e o viaduto Santa Ifigênia em construção.

Retrato de época vivaz e arrasador, escrito em linguagem ágil, Gente rica: cenas da vida paulistana é uma das muitas manifestações do pré-modernismo que, de acordo com a crítica literária Walnice Nogueira Galvão, ficaram um tanto ofuscadas pelo fulgor da Semana de Arte Moderna de 1922. São, porém, obras estimulantes com o poder de divertir e fazer pensar o leitor contemporâneo.

José Agudo nasceu em Portugal em 1868 e viveu em São Paulo até sua morte, em 1923. Professor da Escola de Comércio Álvares Penteado, foi um dos principais cronistas da belle époque paulistana.

Walnice Nogueira Galvão é professora emérita de teoria literária e literatura comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Foi professora visitante em diversas universidades e é autora de obras sobre Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, crítica da literatura e da cultura.

Vídeo

A crítica literária Walnice Nogueira Galvão conversa com o historiador Elias Thomé Saliba sobre José Agudo e o período chamado de "pré-modernista"

Trecho

Vale a pena pensarmos um pouco… Vejam vocês: — o homem ou é rico… Sim, porque eu acredito que a ideia é individual… Bem. Ou ele é rico e está indignado contra o atual estado de cousas. Resultado: — ironia sobre elas; meio prático de extravasar a bílis ou desingurgitar o fígado, sem recorrer às panaceias preconizadas nos anúncios de quarta página. Ou é pobre, e então ninguém pode imaginar que sacrifícios ele teria feito para atirar com esse papel à cara daqueles que julga seus exploradores. É uma vingança como outra qualquer. Não ofende nem atinge a nossa integridade física, mas arranha bem fundo a nossa consciência […] Um outro, mais estúpido e mais desequilibrado, escolheria uma noite como esta, e lá do alto das torrinhas atiraria uma bomba terrivelmente explosiva no meio da sala cheia… Ele, não. Quem quer que seja, preferiu dirigir-se a cada um de nós, e dizer-nos sob o disfarce do riso: — Vocês são todos uns desfrutáveis. Pensam que a vida consiste somente na ostentação a todo o transe. 

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