Diários, 1935-1936

Eunice Penna Kehl

Posfácio:
Maria Rita Kehl

Especificações

392
páginas
ano
2022
peso
467 g
ISBN
978-65-80341-08-5
ISBN (e-book)
978-65-80341-19-1

“Os diários de Eunice Penna Kehl são um documento precioso. Eunice é inteligente, sensível, observadora; sua percepção informa e sensibiliza. Depressa ela se transforma numa espécie de amiga do leitor, e suas anotações iluminam com nitidez o mundo que o leitor recria na imaginação.”

Assim a editora Heloisa Jahn se referiu aos diários em que Eunice Penna Kehl registrou, entre 1935 e 1970, a vida em família da perspectiva de uma mulher culta, de classe média, no Rio de Janeiro do período do entreguerras. Mencionados ou apenas inferidos, acontecimentos políticos e fatos da história, no Brasil e no mundo, muitas vezes ganham em seu texto peso e nitidez surpreendentes.

Para Eunice, a ideia de escrever um diário não foi casual. Passado a limpo com esforço, o primeiro caderno surgiu com a função de fazer frente à depressão. Em 1935 Eunice perde Victor Luis, o filho mais velho, e essa dor a acompanharia a vida toda, bem como a culpa por julgar não ter cuidado bem do filho.

O ano seguinte traz os esforços de Eunice para superar essa perda. Além de cuidar das tarefas domésticas e familiares, ela abre uma academia de ginástica com uma amiga, iniciativa ousada para uma mulher de sua época. E, apesar de viver um casamento estável com o marido Renato, Eunice muitas vezes desabafa sobre seu caráter melancólico e neurastênico.

Em seu posfácio, afetivo e pessoal, Maria Rita Kehl parte das lembranças da avó para conciliá-las com aquilo que os diários revelam a respeito de Eunice e de sua época — o “curto século xx” de Hobsbawm, quando o mundo parecia ter um futuro de progresso constante pela frente.

Eunice Penna Kehl nasceu em Juiz de Fora em 1901. Em 1920 casou-se com Renato Kehl (1889-1974), com quem teve dois filhos, Sergio Augusto e Victor Luis, que morreu em 1935, de septicemia. Eunice morreu em 1980, em São Paulo.

Maria Rita Kehl é psicanalista, jornalista e escritora. Publicou vários livros, entre eles O tempo e o cão: atualidade das depressões, vencedor do prêmio Jabuti na categoria não ficção em 2010.

Trecho

Meu espírito, como um nômade, não mora comigo. Vagueia ansioso na nossa casa de Águas Férreas. Em cada canto, lá ficou uma saudade, uma recordação triste ou alegre dos dias felizes que lá vivemos, durante nove anos! Não me conformo de ter abandonado minha casa! Por meu gosto lá ficaria, e não mudaria nada dos seus lugares, nem dos meus hábitos. Cada noite ficaríamos os três no escritório, como dantes, e junto de nós invisível, mas presente, o nosso Victor querido. Em cada lugar em que eu fosse, ele também estaria, sempre ao meu lado, sempre presente! Mas aqui? Nada me lembra meu filho. Tudo me é indiferente, nem um cantinho guarda uma recordação dele. Tudo mudou! Tudo está frio. Porque ele lá ficou e eu não posso estar com ele.

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