

O engenheiro abolicionista: 2. No Hotel dos Estrangeiros — Diários, artigos e cartas, 1883-1885
Especificações
- 624
- páginas
- ano
- 2025
- 805 g
- isbn
- 978-65-80341-36-8
- LANÇAMENTO
- 31 DE MARÇO DE 2025
Os dois volumes de O engenheiro abolicionista acompanham a retomada da escrita do diário regular de André Rebouças, de 1883 até pouco depois da posse do gabinete conservador e antiabolicionista do barão de Cotegipe, em 20 de agosto de 1885.
O ano de 1883 e os primeiros meses de 1884 haviam sido tempos de elevadas expectativas para o movimento abolicionista. Tinham como epicentro a baixa do preço dos cativos decorrente do fechamento do tráfico interno e as denúncias de ilegalidade da escravidão de africanos que entraram no país a partir de 1828. Culminaram com a abolição na província do Ceará em 25 de março de 1884.
As cartas que Rebouças escreveu a Joaquim Nabuco nesse período abrem o segundo volume de O engenheiro abolicionista. Elas iluminam a intensidade e o entusiasmo que animavam o engenheiro, e são seguidas pela transcrição de seu diário, de junho de 1884 a setembro de 1885. Rebouças acompanha toda a movimentação política, da subida ao poder do Ministério Dantas, aliado dos abolicionistas, até a queda deste e a total inversão dos significados políticos da proposta de lei de libertação dos sexagenários.
À medida que a conjuntura vai se tornando negativa, os registros do engenheiro ficam cada vez mais secos. O texto é lacônico, o contexto, dramático. Isolado politicamente, Rebouças é afastado da gerência-geral da Minas Central Railway, e sua produção na imprensa diminui e quase cessa por algum tempo.
O engenheiro abolicionista: 2. No Hotel dos Estrangeiros — Diários, artigos e cartas, 1883-1885 contém também a transcrição de artigos avulsos, a maioria não assinados, que Rebouças fez questão de registrar no diário e que permitem ao leitor vislumbrar como o ativista antiescravista, ao desiludir-se com a ação política formal, passava a apostar na ação direta. Estava convencido de que a derrota abolicionista era temporária e que não poderia haver modernidade ou civilização baseadas na escravização de gente e na destruição da natureza.
André Rebouças nasceu em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, em 13 de janeiro de 1838. Foi um dos mais destacados intelectuais negros de sua época e grande articulador do movimento abolicionista brasileiro. Exilou-se na Europa junto com a família imperial depois do golpe militar que instituiu a República no Brasil. Morreu em Funchal, na ilha da Madeira, em 1898.
Hebe Mattos é professora titular livre na Universidade Federal de Juiz de Fora e autora, entre outros livros, de Ao sul da história: lavradores pobres na crise do trabalho escravo, Das cores do silêncio: os significados da liberdade no Sudeste escravista e Escravidão e cidadania no Brasil monárquico.
Trecho
Em Petrópolis
[6 de setembro]
Muito vento à noite e pela manhã; dia de sol sempre incinerado.
Temperatura de 14,1º a 23,5º centígrados.
5h — Acordar, toalete, banho, diário, balancete etc.
7 — Trabalhando na propaganda abolicionista e democrática.
9 — Preparando novos termos para o Dicionário politécnico.
12h — Visitando os amigos Fernando Schmidt, Germano de Barros e família Paixão, no colégio, no Palatinado Inferior.
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O vento ne tem trazido para as ruas de Petrópolis folhas carbonizadas das florestas circunvizinhas, queimadas pela barbaria dos exploradores dos míseros escravizados. Não há como duvidar que o incinerado de agosto e setembro é devido a esses canibais.
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