Guerra contra Palmares: o manuscrito de 1678

Silvia Hunold Lara & Phablo Roberto Marchis Fachin (org.)

Especificações

232
páginas
ano
2021
peso
370 g
isbn
978-65-990122-5-9
isnb (e-book)
978-65-80341-21-4

Palmares foi o maior e mais duradouro assentamento de fugitivos da história da escravidão no Brasil. Os mocambos, como eram chamados, formaram-se no início do século xvii nas matas do sul de Pernambuco e resistiram até as primeiras décadas do século xviii. Seu líder mais famoso, Zumbi, tornou-se símbolo das lutas pela liberdade no Brasil.

Apesar da importância dos Palmares, os documentos sobre sua história ainda são pouco estudados. A principal fonte utilizada pelos historiadores é um texto conhecido como “Relação das guerras feitas aos Palmares de Pernambuco”. Escrita para enaltecer o governador, a descrição do conflito é precedida por informações sobre a história dos Palmares e da rede de mocambos que ali havia se formado. A narrativa termina com o acordo de paz negociado entre uma embaixada palmarista e as autoridades pernambucanas.

Em 1859, uma cópia desse documento foi publicada sem nenhuma informação sobre sua autoria, data de produção ou localização do original, e poucos se interessaram em saber mais. Guerra contra Palmares: o manuscrito de 1678 é o resultado de anos de pesquisa da historiadora Silvia Hunold Lara e do filólogo Phablo Roberto Marchis Fachin, e traz a transcrição das duas versões seiscentistas desse documento: a da Biblioteca de Évora e a do Arquivo da Torre do Tombo, cuja descoberta permitiu corrigir erros e lacunas da versão de 1859.

Unindo filologia e história, o livro analisa o contexto em que o documento foi escrito, fundamenta a atribuição de sua autoria ao padre Antônio da Silva, e discute como esse texto foi lido e interpretado pelos historiadores nos séculos xix e xx. Guerra contra Palmares: o manuscrito de 1678 contém ainda catorze documentos inéditos que oferecem uma narrativa alternativa dos acontecimentos retratados.

Silvia Hunold Lara é professora colaboradora do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Pesquisa história da escravidão no Brasil nos séculos xvii e xviii e história social do direito no Brasil colonial

Phablo Roberto Marchis Fachin é professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo (usp) e pesquisador nas áreas de filologia, paleografia e história da língua portuguesa.

Vídeo

Silvia Hunold Lara (Unicamp) e Phablo Roberto Marchis Fachin (USP) entrevistados no canal History of Science das universidades de Coimbra e Aveiro

Trecho

Com todas estas entradas ficaram as nossas povoações destruídas e os Palmares conservados, sendo a causa principal deste dano a dificuldade dos caminhos, a falta das águas, o descômodo dos soldados, porque como são montuosas as serras, infecundas as árvores, espessos os matos, para se abrirem é o trabalho excessivo, porque os espinhos são infinitos, as ladeiras muito precipitadas e incapazes de carruagens para os mantimentos, com que é forçoso que cada soldado leve às costas a arma, pólvora, balas, capote, farinha, água, peixe, carne e rede com que possa dormir, com que a carga que os oprime é maior que o estorvo que os impede. Ordinariamente adoecem muitos, assim pelo excesso do trabalho como pelo rigor do frio. E estes ou se conduzem a ombros ou se desamparam às feras. E como os negros são senhores daqueles matos e experimentados naquelas serras, o uso os tem feito robustos naquele trabalho e fortes naquele exercício, com que nestas jornadas nos costumam fazer muitos danos, sem poderem receber nenhum estrago, porque encobertos dos matos e defendidos dos troncos se livram a si e nos maltratam a nós. 

Este era o estado em que achou os Palmares dom Pedro de Almeida, quando entrou a governar estas capitanias.

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