Especificações
- 328
- páginas
- ano:
- 2022
- peso:
- 430 g
- isbn
- 978-65-990122-9-7
- isbn (e-book)
- 978-65-80341-15-3
“Em que consiste a emancipação feminina? De que serve o direito político para meia dúzia de mulheres, se toda a multidão feminina continua vítima de uma organização social de privilégios e castas em que o homem tomou todas as partes do leão?”
Publicado originalmente em 1932, Amai e… não vos multipliqueis é um grito de protesto contra todas as formas de autoridade que oprimiam e oprimem as mulheres: a família, a Igreja, o capitalismo e os governos fascistas — e também o próprio feminismo, o comunismo ou qualquer tentativa de combater uma autoridade colocando outra em seu lugar.
O livro é uma coletânea de artigos que Maria Lacerda de Moura, pioneira do feminismo anarquista, escrevia para o jornal O Combate. Os textos têm como interlocutores contemporâneos da autora no cenário político da época, à esquerda e à direita, em um Brasil e um mundo tão ou mais polarizados que os de hoje, quando comunistas e integralistas se enfrentavam fisicamente nas praças do país e o fascismo avançava na Europa.
Para contrapor-se à associação entre fascismo, machismo, clero e capitalismo, Amai e… não vos multipliqueis defende o amor como via de emancipação, sobretudo para as mulheres: escolher quem amar, poder amar mais de uma pessoa, escolher ser ou não ser mãe eram meios de libertá-las das garras do patriarcado — mais eficazes, segundo a autora, do que a conquista do direito ao voto pelo qual lutavam Bertha Lutz e o movimento sufragista brasileiro.
Com isso, o livro vincula a questão da emancipação feminina à luta pela emancipação do indivíduo no capitalismo industrial, o que o aproxima do feminismo da década de 1960 e abre um amplo espectro de possibilidades de diálogo com o feminismo atual.
Maria Lacerda de Moura foi professora, escritora, anarquista e feminista. Nascida em 1887, em seu trabalho como educadora teve contato com as ideias renovadoras da médica feminista Maria Montessori e dos pedagogos anarquistas Paul Robin, Sébastien Faure e Francisco Ferrer. Foi colaboradora frequente da imprensa operária e progressista de São Paulo.
Mariana Patrício Fernandes é professora do Departamento de Ciência da Literatura e pesquisadora do programa de pós-graduação de Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ufrj). Pesquisa a relação entre escrita e corpo a partir dos vínculos entre literatura, dança, história e feminismo.
Imprensa
Trecho
“O Amor é fonte de vida e é através do Amor que os seres sobem a escalada para uma finalidade mais alta.
O que é sádico e exclusivista, o que tem ciúmes, o que se vinga, o que mata é o instinto, é o ser ancestral bestializado, impelido pela mesma força inconsciente, pela mesma vibração selvagem, brutal que estimula o galo, o touro, o tigre ou a pantera a lutar pela posse exclusiva da fêmea.
E a honra “lavada” pelo homem é a mesma honra das hienas, das toupeiras, dos touros no curral ou dos galos no terreiro. […]
Quando sentiremos a necessidade de uma educação ao inverso, o combate ao exclusivismo em amor, ao ciúme, quando sentiremos o ridículo desse “lavar” da honra dos nossos galos e dos nossos touros de formas humanas?”
“Por si mesma, a moral, de que se alimenta a sociedade vigente, decreta a própria falência. Essa moral odiosa, de classes de ricos piedosos e de pobres a receberem esmolas, de exploradores caridosos e explorados calculadamente vigiados pela força armada, mantenedora da passividade exterior e da revolta latente dos ilotas modernos, essa moral farisaica, para os ricos aconselha a caridade, a distribuição ostentosa do supérfluo adquirido à custa do suor proletário e para os pobres recomenda a resignação passiva, o receber, humildemente, as sobras que espirram, por acaso, das mesas dos ricos e olhar ainda, agradecidos, para essas mãos orgulhosas que se divertem nas caridades exibicionistas dos salões elegantes, tirando partido das misérias sociais para o seu prazer. Quando novas fórmulas de uma ética mais humana se apresentam para outra organização social de mais equidade, — ainda a mulher está convencida de que a sua mais alta missão na vida é a caridade e só conhece a questão social através da caridade, mas, dessa caridade de chás e tangos e requebros declamatórios nos salões…”
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