Especificações
- 192
- páginas
- ano:
- 2019
- peso:
- 282 g
- isbn
- 978-65-80341-02-3
- ISBN (E-BOOK)
- 978-65-80341-10-8
Fantina se inicia com o malandro, sensual e interesseiro Frederico conquistando dona Luzia, fazendeira rica e viúva. Depois do casamento, estabelece-se uma situação típica das fazendas escravistas do século xix: senhor da casa, o aventureiro inescrupuloso quer também exercer seu direito de posse sexual sobre as escravas.
A figura desse malandro urbano, tocador de viola, adentra o universo da fazenda e — em meio a vívidas descrições de saraus regados a violão e modinhas na casa-grande, e de batuques de escravos nos terreiros — desencadeia o drama de Fantina, jovem e bela escrava de dona Luzia.
O romance, publicado pela primeira vez em 1881, não apenas retrata usos e costumes do passado. Diz muito sobre o Brasil atual, em que diversas questões civilizatórias colocadas pela luta contra a escravidão estão novamente em pauta, em pleno século xxi.
No posfácio a esta edição, o historiador Sidney Chalhoub (Harvard/Unicamp), analisa o papel fundamental que a literatura desempenhou no movimento abolicionista brasileiro. Compara Fantina a outros romances da época, como Escrava Isaura, Ursula e A cabana do pai Tomás, e mostra a naturalização do abuso sexual dos senhores sobre suas escravas, para o qual a lei não previa nenhuma punição. Afirma Chalhoub: “Então e agora, mentes e corpos de mulheres negras movem estruturas e despertam reações contrárias violentas. Ao mesmo tempo, exigem de todos nós a ousadia de imaginar e realizar um outro futuro em liberdade”.
Francisco Coelho Duarte Badaró nasceu em 1860 em Piranga (mg). Formou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo, e depois fez carreira como advogado em Ouro Preto. Escreveu Fantina quando ainda estudante de direito.
Sidney Chalhoub é professor dos Departamentos de História e de Estudos Africanos e Afro-americanos na Harvard University desde 2015. É autor de Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte (1990), Machado de Assis, historiador (2003) e A força da escravidão: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista (2012), além de artigos e capítulos de diversas obras.
Imprensa
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Trecho
Frederico viu chegar o momento de lançar uma semente de fé naquele coração sáfaro e combalido pelos sóis dos desenganos amargos.
— Pois se você quiser, tia Rosa, fazer uma coisa que eu cá sei, muito breve você fica forra.
A mulata concertou o lenço da cabeça e riu um rir franco e bom, onde passavam os choques de esperanças brancas como capuchos de algodão.
— Tudo quanto sinhô mandar, sua negra está pronta para fazer.
— Então, — disse Frederico correndo o olhar em torno para certificar-se de que não era ouvido, — então quero que me arranje a Fantina. Você deve passar nela a língua e ver; se ela quiser, eu prometo libertá-la no dia seguinte. Veja se o negócio fica em segredo, porque d. Luzia sabendo bufa comigo. — E sacudia a cabeça, com as mãos metidas nos bolsos das calças, olhando a velha espantada.
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