Especificações
- 168
- páginas
- ano:
- 2023
- peso:
- 224 g
- isbn
- 978-65-80341-28-3
- isbn (e-book)
- 978-65-80341-29-0
A Guerra do Paraguai (1864-70) foi uma hecatombe humana, política e financeira para os países que dela participaram. A confirmação dos atos sangrentos praticados pelo ditador paraguaio Francisco Solano López, descritos por suas vítimas ou por observadores, interessava a setores políticos nos países envolvidos no conflito. Ao mesmo tempo, esses relatos descrevem com honestidade as experiências pessoais de seus autores.
As Memórias de Dorothée Duprat de Lasserre são o único depoimento de uma mulher a respeito do conflito. A autora não só assistiu à violência da guerra, mas viveu na pele os desmandos da ditadura de López. Seu relato, escrito no calor dos acontecimentos, expõe os sofrimentos causados pela guerra na população civil, particularmente nas mulheres paraguaias.
A pesquisa de Francisco Doratioto em arquivos brasileiros, argentinos e paraguaios revela fatos inéditos sobre a vida de Dorothée, que durante a guerra fez parte de um grupo de mulheres chamadas de destinadas. Arbitrariamente tachadas de traidoras por López, foram obrigadas a caminhar, sob escolta de soldados, para o interior do Paraguai. Doentes, maltrapilhas e à beira da inanição, as sobreviventes da extenuante jornada foram libertadas em dezembro de 1869, já no final do conflito, pelo Exército imperial brasileiro.
Exausta, física e psicologicamente, ainda assim Dorothée aceitou o desafio de escrever suas memórias, a pedido do coronel Francisco Pinheiro Guimarães, no início de 1870. Finda a guerra, teve ainda uma intensa vida pública em Chivilcoy, na Argentina, onde morreu em 1932.
Dorothée Duprat de Lasserre Nascida na França, Dorothée Duprat (1845-1932) imigrou com os pais em 1856 para a colônia agrícola de Nueva Burdeos, no Paraguai.
José Murilo de Carvalho foi historiador e cientista político, professor emérito da ufrj, Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra e membro das academias brasileiras de Letras e de Ciências. Organizou quinze livros e é autor de doze outros.
Francisco Doratioto é bacharel em história e em ciências políticas pela Universidade de São Paulo e mestre e doutor em história das relações internacionais do Brasil pela Universidade de Brasília.
Trecho
Acabaram-se novamente as laranjas, então a sr.a Leite determinou-se; também chegou um soldado da guarda contando que o sargento tinha ido denunciar todas as destinadas que fugiam. Isso fez com que muitas se decidissem, e voltamos a fazer trato com outro índio. Nós o carregamos de roupa, redes, ponchos… e fomos embora. Essa noite era o 14 de dezembro; ao cruzar o estuário cortei-me num lado da perna, atrás de mim vinha a sr.a Jaona, que machucou as duas pernas. Para nos salvar, nos desvencilhamos da roupa, estávamos banhadas em sangue. Em poucos instantes ouviu-se um pedido de socorro, a sr.a Leite havia entrado no barro até metade do corpo, pareceu-me um mau agouro, mas seguimos o índio em silêncio […]. Caminhamos até meia-noite, alcançamos uma ponta de monte, nosso guia ordenou que sentássemos em silêncio e o aguardássemos.
Avaliações
Não há avaliações ainda.