

O Cancioneiro das Baldaias: sete sonetos jocosos e uma balada — Salvador, Bahia (1592)
Especificações
- 168
- páginas
- ano
- 2025
- 224 g
- isbn
- 978-65-80341-40-5
- LANÇAMENTO: 24 DE SETEMBRO DE 2025
Em janeiro de 1592, os papéis do jovem poeta Bartolomeu Fragoso, nascido em Lisboa e criado em Salvador, foram sequestrados pela Inquisição portuguesa de sua escrivaninha no Engenho da Cidade, onde ele morava. Entre esses papéis estava o manuscrito de um livro inédito, a que a pesquisadora Sheila Hue, que o encontrou nos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa, intitulou O Cancioneiro das Baldaias.
O pequeno volume encadernado é o primeiro livro conhecido de poesia profana escrito no Brasil de que temos notícia. Costurado juntamente com o processo inquisitorial de Fragoso, trata-se de um raríssimo espécime bibliográfico. Fruto da vida boêmia na cidade e destinado ao entretenimento, o panfleto provavelmente circulou em Salvador em cópias manuscritas.
Mestre do humor, da sátira e do duplo sentido, Fragoso dedica-se a cantar duas irmãs portuguesas Beatriz e Magdalena Correa, cortesãs que participam do jogo amoroso encenado nos poemas. A pequena obra é composta de uma seção inicial de sete sonetos jocosos, seguida de uma balada, também cômica.
Tendo vivido grande parte de sua vida no Brasil, o autor transforma a tradição poética europeia a partir de sua vivência na Bahia açucareira e mescla vetustas metáforas petrarquistas à experiência colonial de chupar cana, por exemplo, de forma que sua amada é “fresca mais que cana”, em vez de mais branca que a neve.
Preso juntamente com seus papéis, ao final do processo inquisitorial Bartolomeu Fragoso foi degredado para sempre da capitania da Bahia. Banido da cidade no auge de sua produção, não deixa traços que possamos recuperar. Mas com seu pequeno livro, milagrosamente preservado, nos dá uma pista de um mundo de músicos, leitoras e leitores, livros proibidos, bibliotecas particulares, poetas, mercadores, administradores da Coroa, todos envolvidos na vida cultural de Salvador na última década do século xvi.
Bartolomeu Fragoso nasceu provavelmente em Lisboa em meados da década de 1560 e radicou-se em Salvador, na Bahia.
Sheila Hue é professora do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Suas principais áreas de pesquisa são os discursos quinhentistas sobre o Brasil e os estudos camonianos.
Trecho
Beatriz Correa, dama não perosa,
Resplandecente e bela, mais que humana,
Em Portugal nascida e lusitana,
A quem igual não há em ser fermosa.
Tão linda e tão perfeita, e graciosa,
Justa e digna, e fresca mais que cana,
Sendo duma tal verdura sobre-humana,
Cheia, verde, ou que lírio, ou que rosa.
O que vos peço aqui, que com cuidado,
Revisto o mal do mundo e seus enganos,
Enjeiteis a ele mau, e o grã Satã,
Atroz imigo vosso, que luteranos
E a carne todos são, largai por mão
Todos três, e alcançareis céu descansado.
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