O engenheiro abolicionista: 1. Entre o Atlântico e a Mantiqueira — Diários, 1883-1884

André Rebouças

Organização:
Hebe Mattos

Especificações

664
páginas
ano
2024
810 g
ISBN
978-65-80341-30-6
ISBN (e-book)
978-65-80341-31-3

O engenheiro abolicionista: 1. Entre o Atlântico e a Mantiqueira Diários, 1883-1884 é o primeiro volume dos diários de maturidade de André Rebouças, um dos principais intelectuais negros brasileiros, pioneiro na introdução e no ensino da engenharia civil no Brasil.

Rebouças manteve um diário íntimo desde seus primeiros trabalhos como engenheiro militar, logo após retornar de seus estudos na Europa, em 1863. No entanto, em meados da década de 1870 seu mundo viraria de ponta-cabeça em meio à crise na gestão de uma de suas principais obras e à morte de seu irmão, em 1874, e de seu pai, em 1880.

Como desdobramento dessa crise, entre 1877 e 1882 Rebouças parou de escrever diários ou destruiu, posteriormente, seu conteúdo. Quando os retomou, em 1883, está em Londres, em contato com o movimento abolicionista internacional e com diversos engenheiros e capitalistas, planejando portos e estradas de ferro. Desde então, escreveu diariamente em pequenas agendas.

Suas anotações começavam sempre com uma observação sobre o tempo e a posição dos astros no céu, seguidas da informação da temperatura do dia. Levantava-se geralmente às cinco da manhã e frequentemente associava a suas notas recortes de jornais, comentados no posfácio deste volume.

Apesar do estilo sucinto da agenda, o texto fascina e surpreende. Permite que o leitor acompanhe as atividades de Rebouças primeiro em Londres, onde ele se encontra com Joaquim Nabuco, já então o mais conhecido dos abolicionistas brasileiros. Em seguida, mostra-nos sua viagem de trabalho à Holanda e, pouco depois, o retorno ao Brasil, onde acompanhamos as atividades do engenheiro em Minas Gerais e sua atuação na imprensa da Corte em prol da propaganda abolicionista — até a abolição da escravidão no Ceará em 25 de março de 1884 e o reencontro com Joaquim Nabuco no Rio de Janeiro, em maio desse ano.

André Rebouças nasceu em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, em 13 de janeiro de 1838. Foi um dos mais destacados intelectuais negros de sua época e grande articulador do movimento abolicionista brasileiro. Exilou-se na Europa junto com a família imperial depois do golpe militar que instituiu a República no Brasil. Morreu em Funchal, na ilha da Madeira, em 1898.

Hebe Mattos é professora titular livre na Universidade Federal de Juiz de Fora e autora, entre outros livros, de Ao sul da história: lavradores pobres na crise do trabalho escravo, Das cores do silêncio: os significados da liberdade no Sudeste escravista e Escravidão e cidadania no Brasil monárquico.

Vídeo

Hebe Mattos e Ana Flávia Magalhães conversam sobre André Rebouças n'A Feira do Livro 2024

Trecho

[30 de julho]

Muito vento à noite e pela madrugada; ameaças de chuva pela manhã; dia escuro e encoberto; chuviscos ao anoitecer.

Temperatura de 18,3o-21,1o centígrados

5h — Acordar, toalete, banho, diário, balancete etc.

7h — Redigindo o 15.o artigo da série — “Abolição imediata e sem indenização” — xv.

8h — Redigindo o 16.o artigo desta série.

10h — Entregando na Gazeta da Tarde o artigo xv ao José do Patrocínio.

10½ — Na Tipografia Central de Evaristo R. da Costa, à travessa do Ouvidor n.o 7, entregando para serem impressos em folheto os catorze primeiros artigos.

11h — Com o tabelião Cerqueira Lima e tradutor Carlos Kunhardt, promovendo a transferência do Caminho de Ferro de Pitangui e os estatutos da companhia The Minas Central Railway of Brazil.

11½ — Na sessão inaugural da Sociedade Abolicionista da Escola Politécnica, assistida pelos amigos j. f. Clapp e José do Patrocínio. Produziu extraordinária emoção o engenheiro José Agostinho dos Reis, substituto de economia política, terminando um eloquente discurso pela declaração — “Nasci escravo!!!”

2h — Em Congregação de Lentes da Escola Politécnica para habilitar os candidatos ao concurso.

3½ — De volta ao Hotel da Vista Alegre em Santa Teresa.

Falece, à noite, de febre amarela, o excelente companheiro de hotel Gustave Theisen.

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