Diálogos Makii de Francisco Alves de Souza: manuscrito de uma congregação católica de africanos Mina, 1786
Especificações
- 240
- páginas
- ano:
- 2019
- peso:
- 342 g
- isbn
- 978-65-803410-1-6
- isbn (e-book)
- 978-65-80341-07-8
“Mariza de Carvalho Soares localizou um documento fantástico e fez dele excelente análise.” — José Murilo de Carvalho
Os Diálogos Makii foram escritos em 1786 por Francisco Alves de Souza, ex-escravo africano natural da Costa da Mina, no Golfo da Guiné. Souza pertencia à Congregação Makii, irmandade católica fundada por africanos Mina-Makii na cidade do Rio de Janeiro, cujos principais objetivos eram enterrar dignamente seus membros e cuidar de enfermos e necessitados.
Em 1783, a morte do rei da congregação desencadeou um conflito sucessório, e Souza foi eleito novo rei. A pedido dos congregados, ele escreveu este longo texto, composto de dois diálogos. O primeiro trata da conversão de escravos africanos ao catolicismo e do conflito sucessório que o elegeu. O segundo narra a conquista da Costa da Mina por portugueses e holandeses.
Para além da experiência da escravidão, os Diálogos Makii mostram como essas pessoas vivenciaram a condição de estrangeiros, passageiros forçados de uma viagem sem volta que os levou a criar estratégias de sobrevivência. Trata-se de um documento raríssimo e inédito, cuja publicação é indispensável para todos os interessados em compreender a história do Brasil, a história da África e a história da diáspora africana nas Américas.
A historiadora Mariza de Carvalho Soares pesquisa esse manuscrito e os documentos a ele relacionados há mais de vinte anos. De sua busca incansável em arquivos resultou uma primorosa pesquisa, que traz a público e contextualiza fatos e personagens de uma história que de outra forma estariam fadados ao esquecimento e ao anonimato.
Mariza de Carvalho Soares é professora aposentada de história da África da Universidade Federal Fluminense (uff) e atualmente professora visitante da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Entre suas publicações estão Devotos da cor (Civilização Brasileira, 2000).
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Trecho
Desde o princípio desta terra, em que entraram a conduzir os pretos de África, que vêm da Costa da Mina, e de Angola, e pelas desumanidades de alguns senhores que os compravam, todas as vezes que adoeciam de moléstias incuráveis e envelheciam os deitavam fora, a morrerem de fome, e frio, nuz, por estas praias, sem ter quem os mandasse enterrar, se a Santa Casa da Misericórdia os não mandasse buscar para os enterrar com aquele zelo e caridades que costuma, aí ficariam os cadáveres […]. E por esta razão introduziram os pretos entre si a fazerem este adjunto ou corporação a fim de fazerem bem aos seus nacionais a saber que a nação que morrer seus parentes tirar esmolas para os sepultar e mandar-lhes dizer missas por sua alma. E os que forem pobres, acudir-lhes de tempo em tempo com a sua contribuição.
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