Especificações
- 200
- páginas
- ano
- 2024
- 285 g
- ISBN
- 978-65-80341-32-0
- ISBN (e-book)
- 978-65-80341-35-1
O encontro do interiorano com a Corte era fonte infindável de pilhérias no Brasil do século xix. No teatro de Martins Pena, por exemplo. Em O juiz de paz da roça, José quer seduzir Aninha, carregá-la consigo para a cidade, logo fala muito do “que é que há lá tão bonito”: três teatros, homem que vira macaco, mágica com muito maquinismo, cosmorama na rua do Ouvidor, cabrito com duas cabeças, porco com cinco pernas.
O caiporismo também marcava presença naquele tempo. Como na literatura de Machado de Assis, nada menos. Num conto, “Último capítulo”, o protagonista e narrador da estória define o caipora — ele próprio — como o sujeito que, ao cair de costas, consegue quebrar o próprio nariz! Para saber como, vá ler o conto, que está em Histórias sem data, pois vale muito a pena.
Nhô Quim é ao mesmo tempo roceiro e azarado. Jovem de vinte anos, filho “de gente rica porém honrada”, vai parar na Corte porque o pai não aprova o seu namoro com donzela virtuosa mas sem vintém. Está criado o entrecho para as situações embaraçosas e chistes sem fim de As aventuras de Nhô Quim, ou impressões de uma viagem à Corte. Veem-se as imagens com aquela sensação de dó da vergonha alheia, pobre Nhô Quim, que perde o trem, sai à rua de saia, não acha mais o moleque que lhe devia servir, vira capanga eleitoral.
A graça das imagens, a aparente falta de pretensão de tudo, é uma janela ímpar para a observação da cultura e da sociedade do Brasil imperial. A “gente rica” não parece honrada, apega-se à escravidão, corrompe eleições, há espertalhões por toda parte. O posfácio de Marcelo Balaban e Aline dell’Orto oferece um panorama primoroso da arte das publicações ilustradas no Brasil oitocentista. O caiporismo de Nhô Quim é a sorte grande de seus leitores.
Sidney Chalhoub
Sidney Chalhoub é professor dos Departamentos de História e de Estudos Africanos e Afro-americanos na Harvard University desde 2015. É autor de Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte (1990), Machado de Assis, historiador (2003) e A força da escravidão: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista (2012), além de artigos e capítulos de diversas obras.
Angelo Agostini (1843-1910) chegou ao Brasil em 1859 e colaborou como ilustrador em diversas publicações. É considerado um precursor dos quadrinhos.
Cândido Aragonez de Faria (1849-1911) foi jornalista, caricaturista, ilustrador e professor. Tornou-se um dos caricaturistas mais solicitados do Império.
Aline dell’Orto é doutora em história pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (2020), tendo como especialidade imprensa, caricaturas, arte e circulação de impressos no Brasil.
Marcelo Balaban é doutor em história pela Universidade Estadual de Campinas e professor associado de história do Brasil e teoria da história da Universidade de Brasília.
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